Os lugares de saber apropriados

 

Nomeado diretor adjunto da Escola Nacional Superior em 1881 e encarregado da biblioteca, Vidal vai exercer um ofício que ele conhece bem: o do literato, crítico de textos e mapas. Seus cadernos testemunham não somente sua constante atividade bibliográfica como também sua preocupação com os equipamentos coletivos, tais como espaços, móveis e materiais de trabalho. Quando chega à Sorbonne, é visto solicitando, tal qual seus jovens colegas universitários, todos ex-alunos seus, créditos suplementares para montar um “laboratório” ou um “instituto de geografia”. Reconhecemos aqui o modelo alemão.

Caderno [22], registro 77.

Vidal vai pesquisar precisamente em Lille, em 1900, junto a Édouard Ardaillon (1867-1926), que ali implementara um pequeno laboratório que será fortalecido por Albert Demangeon (1872-1940) e, depois, por Antoine Vacher (1873-1920). O caderno [22] é preenchido por croquis, planos e listas de materiais, com suas dimensões, que Vidal distribuiu por suas duas salas (p. 80, 78, 77 e 76).

Caderno [31], registro 12.

Ele será encarregado de inspecionar oficialmente a faculdade de Grenoble, onde Raoul Blanchard (1877-1965) também instalou um laboratório (1908). Lá, ele acompanha todas as aulas da faculdade de Letras, se interessa pelas lições apresentadas pelos estudantes, é sensível às diversas modalidades pedagógicas do ensino superior (caderno [31], um caderno voltado a essa tarefa).

Trata-se do único caso de inspeção que conheceu a universidade, dirá mais tarde Blanchard, sempre notando o prazer que teve ao se sentir apreciado pelo “mestre” que fora tão importante para ele na Escola Normal: “Bela cabeleira grisalha, barba muito bem-feita e, sob suas espessas sobrancelhas, olhos magníficos: uma voz calma e lenta [...]. Porém, o que nos enfeitiçava mais ainda que sua aparência física, e que provocava nossa respeitosa admiração, era seu curso [de geografia]” (Blanchard, 1961, p. 197)

O Instituto de Geografia nos anos 1920-1930.

Essas visitas universitárias são pouco prováveis quando se toma como referência a reputação de Vidal, um “savant Cosinus”, bastante aéreo, “que esquece a hora de comer ou de pegar o trem”, segundo Demangeon (1918, p. 8). Essas visitas testemunham, com as notas que as acompanham, a preocupação que ele manteve em cultivar um ofício de geógrafo – para si, com certeza, mas talvez, ainda mais, como chefe de escola. Em todo caso, foi a ele que se confiou a concepção e o planejamento do instituto criado para abrigar a geografia, projeto concebido pelo reitor Louis Liard em 1911-1912 e financiado por doações da marquesa Arconati-Visconti (1840-1923), cuja construção foi praticamente terminada em 1914 e só retomada após o fim da guerra. Vidal assina então, em 19 de janeiro de 1913, o “Programa do Instituto de Geografia: serviços próprios à Faculdade de Letras”. Ele nunca chegará a lecionar no instituto – aliás, já havia pedido uma aposentaria antecipada em 1909 –, e será então Lucien Gallois seu primeiro diretor.